Minha trajetória na área educacional iniciou-se bem cedo. Na verdade, ela começa no ano do meu nascimento: 1988. O ano da promulgação da Constituição Brasileira. Um marco para nossa sociedade e, principalmente, o pontapé inicial para os direitos das crianças e dos adolescentes através de uma visão focada no respeito ao desenvolvimento de cada indivíduo e suas potencialidades. Passamos a enxergar as classes minorizadas, vivenciamos um momento de ruptura política e de redemocratização. Foi nesse contexto que vim ao mundo. O meu nome não podia estar aquém do cenário. Bárbara pode ser um substantivo ou um adjetivo. Mas em ambos os casos, a palavra possui sonoridade e essência fortes e marcantes e tais características nortearam minha caminhada.
Minha trajetória acadêmica foi construída a partir de muito esforço e dedicação. Quanto mais estudava mais percebia algumas falhas que a entidade Escola sofria em seu largo processo de compromisso e responsabilidade para com a Educação em seus amplos aspectos, principalmente, o de construir conhecimento. Com o passar dos anos, minhas inquietações só aumentavam e, estudando cada vez mais a história do Brasil, sentia orgulho, mas ao mesmo tempo, ficava revoltada com a falta de assistência de alguns governantes com o que eu acreditava ser o primordial para a evolução da humanidade: a EDUCAÇÃO!
Ao iniciar a Faculdade de Pedagogia falei em voz alta e com muita firmeza: “Estou aqui para me especializar na área educacional e trabalhar com gestão, sala de aula não me interessa”. Este espaço nunca me encantou. Não entendia o porquê da estrutura física e organização de materiais. Além disso, havia uma hierarquia muito bem definida e as relações humanas eram verticalizadas. Foi então que conheci, através de uma amiga de faculdade, a Flávia, um “novo” (pelo menos para mim) método educacional completamente diferente daquilo que conhecíamos: o Sistema Montessori.
As salas eram montadas para as crianças, ou seja, os materiais ficavam disponíveis e acessíveis, para que elas pudessem manipulá-los a hora que quisessem. Ali, eu conheci a livre escolha. Imaginei: “Que loucura! A sala deve ficar uma bagunça!”. Flávia, porém, me mostrou o contrário: uma organização e uma felicidade jamais vista. Cada criança era guiada pelo seu “mestre interior”.
Foi dada a largada para o início dos meus estudos sobre o Método Montessori. Descobri como sua idealizadora foi forte e determinada, assim como eu me via! Toda minha indignação sobre a Educação que nos era oferecida, parecia ter uma solução. Em 2011, após três anos de estudos iniciais a cerca do método, aprofundei meus conhecimentos. Participei do Congresso Montessoriano em Florianópolis (SC). Lá foi divulgado o curso da professora Talita de Almeida em Educação Montessori de seis a nove anos. Como em 2012 fui convidada a assumir uma turma de agrupamento III (1º, 2º e 3º anos), resolvi me inscrever no curso com a expectativa de me aprofundar no trabalho montessoriano no Ensino Fundamental, uma vez que, até então, meus estudos estavam voltados para a Educação Infantil.
Participei do curso junto à grande mestra Talita de Almeida, à professora Zenize Santos e a algumas pessoas que tive a oportunidade de conhecer. Foi, sem dúvidas, a melhor oportunidade que tive em minha vida acadêmica, profissional e pessoal. Compartilhei experiências, construí conhecimentos e percebi que, na minha constante busca pelo melhor caminho para a Educação, havia dado o primeiro passo.
Em 2013 concluí minha especialização Lato-Senso em Montessori mas queria mais. Aliás, sempre quero mais. Estudar Montessori nos deixa assim, aguçados, curiosos, com sede de cultura e gana de conhecimento. Montessori não nos permite cair no comodismo, nos inquieta. Por isso, no mesmo ano, iniciei uma nova especialização, a de Psicopedagogia. Esse curso ampliou ainda mais minha visão, principalmente para aguçar minha sensibilidade para auxiliar crianças com dificuldade de aprendizagem. Era um de meus focos. Foi quando me deparei com a ideia de levar materiais montessorianos para o ambiente clínico. Decidi tentar.
Minha primeira tentativa foi com um aluno com autismo. Os ganhos foram notórios. A partir daí compreendi a importância de levarmos a filosofia e a metodologia montessoriana para além dos muros da escola.
Em 2015, antes mesmo de terminar o curso de Psicopedagogia, entrei para o grupo de pesquisa “Formação de Professores e Políticas Públicas” (Forpe) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Para auxiliar as crianças no processo de formação percebi que precisava ser uma constante pesquisadora. Não podia deixar minha curiosidade e sede de conhecimento pararem no tempo. No mesmo ano tomei coragem e participei do processo seletivo de mestrado desta mesma universidade. Para minha grande surpresa, durante a seleção, fui convidada a ir para a Itália conhecer a primeira Casa dei Bambini, a cidade natal de Maria Montessori, o Centro Internacional Montessori, pessoas que estudaram com Maria e Mário M. Montessori e escolas montessorianas italianas públicas e privadas. Foram muitas emoções! Um misto de sensações inenarráveis. Recordo-me de entrar em uma sala com 54 crianças de três a seis anos e apenas três professoras. Um ambiente encantador. Era possível ver, na prática, toda teoria descrita nas obras de Maria Montessori. Entrar na casa onde ela nasceu foi estonteante. Fotos e documentos cobertos de histórias, que trouxe para o Brasil para unir a mais uma conquista de minha vida: a aprovação no processo seletivo do mestrado da UFJF.
No mestrado desenvolvi a pesquisa intitulada “Prática Pedagógicas Montessorianas: potencialidades e desafios”. Não poderia sair da temática e precisava continuar a busca pelo aprofundamento teórico sobre o método. Mas decidi ir além dos livros e conversar com professores e gestores sobre suas opiniões a respeito da prática pedagógica desta filosofia. Durante a defesa, fundei a Mediar Desenvolvimento Humano. Lá, passei a trabalhar com a formação continuada de professores que desejam atuar no Método, consultoria educacional para escolas e atendimento psicopedagógico clínico. Além disso, após cinco anos como professora da agrupada III, fui convidada a trabalhar como coordenadora do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano). Apesar de não aplicarmos a metodologia montessoriana nesse segmento da escola, meu maior desafio era levar a essência da filosofia para a equipe de professores e ressignificar o trabalho deles em sala de aula. Em minha caminhada sempre priorizei ouvir as necessidades das crianças/adolescentes e focar um trabalho junto às famílias. Foi através do meu encantamento pela metodologia montessoriana e da minha crença no potencial humano que fui conquistando pessoas que somavam suas histórias à minha.
Foi a frente do Fundamental II, que aprofundei minhas reflexões sobre o que é um ambiente montessoriano. Vai muito além do enxoval, da sala de aula, da formação técnica. Está na essência, no respeito mútuo, na crença nas pessoas, nas relações horizontais, no reconhecimento, na visão cósmica da interdependência, no eu, no outro, em nós! Sigo o caminho que Maria Montessori iniciou no século passado, certa de que "Se houver para a humanidade uma esperança de salvação e de ajuda, esta ajuda só pode vir da criança, porque é nela que se constrói o homem." (Maria Montessori)
Cumprimentos Barbara Pires, por esta tua abordagem clara e útil da "Essência Montessoriana".