Talita de Almeida
Maria Montessori nasceu na província italiana de Ancona, na cidade de Chiaravalle, no dia 31 de agosto de 1870. Sua existência foi um roteiro de abnegação e dedicação à ciência. Matriculada na Universidade de Roma, foi uma das primeiras mulheres na Itália a receber o título de Doutor em Medicina. Preocupada desde muito cedo com os problemas sociais que afligiam seus pais, Maria Montessori chegou a representar as mulheres italianas num Congresso em Berlim, onde defendeu os direitos das mulheres.
Em 1900 foi a Londres para num Congresso denunciar a exploração do trabalho de crianças nas minas da Sicília. Apontou veementemente a grave responsabilidade da sociedade diante desse insólito problema social.
Se a tenacidade e a visão política das contradições sociais de seu tempo deram a Maria Montessori os elementos de sua notoriedade pública, foi a sua experiência como professora assistente da Clínica Psiquiátrica da Universidade de Roma, que lhe despertou a grande vocação científica.
Responsável pela seleção de pacientes capazes de reagir a tratamento, ela organizou uma investigação sobre as experiências de tratamentos aplicados às crianças excepcionais que na clínica misturavam-se indiscriminadamente aos pacientes adultos. Descobriu assim que na recuperação daquelas infelizes crianças nenhuma outra opção era experimentada, além do tratamento médico.
Maria Montessori, médica psiquiátrica, passou então a preocupar-se com a Educação e desenvolveu estudos que lhe permitiram, em 1899, num Congresso Pedagógico realizado em Turim apresentar um trabalho sob o título “Educação Moral”, onde ressaltou sua crença de que as crianças deficientes não são seres extra sociais, mas que são inteiramente sensíveis aos benefícios pedagógicos. Começava aí seu caminho para mudar a história da educação.
A divulgação desta ideia despertou a atenção do Ministério de Educação da Itália que decidiu patrocinar uma experiência-piloto na educação de crianças com necessidades especiais. Fundou-se a Escola Ortofrênica de Roma que reuniu crianças retiradas de asilos de insanos. Sob a direção de Maria Montessori, essa escola educou crianças que atingiram um excelente nível de aprendizado, algumas delas chegando mesmo a superar suas colegas “normais” nas provas das escola públicas.
A partir desses resultados, Maria Montessori dedicou-se ao estudo da didática e metodologia adaptadas, certificando-se da viabilidade de desenvolvimento de um novo método educacional que ajudaria a criança a desenvolver-se em sua plenitude. Passou então a estudar psicologia e filosofia, tornando-se em 1904, professora titular da cadeira de Antropologia, da Universidade de Roma. O conhecimento científico impregnado de Humanismo, capacitou Maria Montessori a iniciar suas experiências educacionais, com crianças “normais” na primeira “Casa Dei Bambini”, fundada em Roma em 1907, num bairro pobre onde viviam crianças abandonadas, desajustadas, temerosas e sem riqueza cultural.
Confiante no seu espírito científico, Maria Montessori levou adiante sua experiência deixando que a criança, livre em seu ambiente, indicasse o caminho da aprendizagem. Os resultados surpreendentes obtidos pouco tempo depois deflagraram uma natural notoriedade de seu trabalho. A imprensa italiana francesa e inglesa começou a falar então de um método montessoriano.
Em 1913 após aperfeiçoar ainda mais a sua metodologia, Maria Montessori ministrou seu primeiro curso internacional para Formação de Professores. Abriu-se assim um ciclo de atividades montessorianas que atingiu vários países. Impossibilitada de atender aos inúmeros convites que lhe foram formulados, Maria Montessori passou a editar com traduções diversas seu livro “Il Metodo daila Pedagogia Scientifica Aplicata all’Educazione Infantile nelle Case dei Bambini“- primeiro de uma extensa bibliografia que se desenvolvera no curso de sua existência.
As décadas seguintes marcaram decididamente sua vocação de educadora. Expulsa da Itália na época do Fascismo, Maria Montessori refugiou-se na Holanda e na Espanha onde deu continuidade ao seu trabalho. Em 1939 foi à Índia, onde permaneceu até 1946, consolidando fecunda amizade com Mahatma Ghandi, Javahra Nehru e Rabindranath Tagore. Em 1946 regressou à Holanda e em 1947, a convite do Governo Italiano, retornou à terra natal para restabelecer o Ente Opera Montessori, fechado durante os anos do regime fascista.
Em 1948 voltou à Índia para ministrar cursos para professores. Em 1949 esteve no Paquistão. Nesse mesmo ano é convidada para dirigir a Assembléia da UNESCO, recebeu a medalha da Legião de Honra da França e é indicada por solicitação de diversos países para receber o Prêmio Nobel da Paz. Essas honrarias áureas, conferiram a Maria Montessori sua perene qualificação como Cidadã do Mundo. No dia 6 de maio de 1952, faleceu em sua casa em Noordwijk on Sea, na Holanda.
A morte de Maria Montessori não interrompeu o desdobramento auto-sustentado de sua obra notável. Até os dias de hoje, seu nome está presente em quase todos os países da Terra, perenizando a continuidade de seu trabalho educacional.
Em quem se baseou?
Maria Montessori viveu entre o século XIX e XX (1870-1952), e como não poderia deixar de ser, recebeu influência de várias ciências como a biologia, a psicologia e a filosofia. Essa passagem do século foi realmente uma fase áurea, pois marca um verdadeiro despertar da ciência em todos os seus aspectos, com estudiosos como Freud, Froebel, Lamark, H. de Vries, Weber, Itard, Seguin, entre outros.
Breve referência sobre a contribuição de alguns deles para o Método Montessori
Lamark ressalta a importância do ambiente funcionando como mediador. Fala do desenvolvimento de dentro pra fora, num impulso interno de vida relacionado com o ambiente.
Frobel foi o primeira a trazer para a Educação as ideias evolucionistas – “o uso e desuso” pela auto atividade. Ressalta três atividades essenciais: gestos, cantos e linguagem. Além disso, solicita muito trabalho das mãos. Fala em educação no sentido de integrar. Utiliza material específico para desenvolver a criança em todo seu potencial e não só com a finalidade de aquisição de conhecimento. O material de Frobel é confeccionado em madeira e sua utilização é livre e espontânea.
De Vries, cientista, diz que as etapas do desenvolvimento são subsequentes, ou seja, se não se estabelecerem as etapas anteriores, não podemos dar as etapas seguintes. Com base nesse conceito, Maria Montessori, apresenta os “períodos sensíveis” que vão graduar a apresentação, progressão e a utilização dos materiais e atividades em classe. De Vieres, fala que o desenvolvimento sensorial precede o desenvolvimento intelectual.
Weber, fisiologista-cientista, professor de anatomia e fisiologia em Leipnitz, estuda as sensações e principalmente as leis do tato. Lei de Weber “Existe uma relação constante entre um excitante sensorial qualquer e o aumento mínimo que é preciso acrescentar ao mesmo para que a diferença seja sentida”. Weber fala sobre colocar a progressão de estímulos em perspectiva de maneira a ir isolando cada sensação separadamente (normalmente isso é possível).
Itard, foi o primeiro educador a colocar em prática a observação do aluno, a exemplo do que se fazia com os enfermos nos hospitais, especialmente aos doentes do sistema nervoso. Seus trabalhos representam os primeiros passos no caminho da Pedagogia Experimental. Da observação científica deduziu uma série de exercícios, capazes de modificar a personalidade, corrigindo defeitos que mantinham determinados indivíduos em estado de inferioridade. Conseguiu fazer falar as crianças semi-surdas, podendo ser considerado o fundador da Pedagogia Científica. Importantíssimo o trabalho com Victor, o Selvagem de Aveyron, onde utiliza muito material sensorial, que mais tarde foi adotado por Maria Montessori, como as letras de lixa, pareamento a distância, formas geométricas (triângulos, quadrados e círculos).
Itard utiliza o desenvolvimento da sensibilidade térmica, olfativa, tátil, auditiva e gustativa. Faz com que, movida pela necessidade, a criança seja forçada a se movimentar no ambiente.
Séguin, foi aluno de Itard e a característica de seu trabalho é método fisiológico. Sua grande norma é que “o professor tem que ser três vezes professor ou não representa nada: ele tem que ser método, criança e família”. Séguin ressalta a importância da formação do professor, da estruturação da vontade e da educação muscular.
Segundo Séguin, o professor tem que ter boa aparência, voz agradável, ser sorridente, ter gestos calmos, constância de atividades, atividades concentradas, atitude franca, controle muscular (vai ser imitado pela criança) e ser um observador paciente.
Séguin utiliza a linha para acalmar a criança, porém a linha reta. Maria Montessori, modifica-a dando um sentido à linha de socialização e controle muscular. Maria Montessori, foi muito influenciada por Séguin, principalmente no que concerne à vontade. O domínio de si é conseguido através de uma série de exercícios, inclusive a de vida prática, formando um homem forte e de vontade enérgica.
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