Um homem simples e inocente. Um homem extremamente generoso, tímido e exuberante. Um homem contemplativo, porém ativo. Um homem que amou a vida apaixonadamente e que permaneceu jovem até o dia de sua morte. Mario amava a Terra; o que estava escondido nela; o que aí vivia e crescia.
Ele amava o céu, o sol, as nuvens, a lua e as estrelas. Ele amava o vento, as tempestades e o mar.
Ele amava desafiar os elementos. Amava montar a cavalo, remar e nadar.
Mario apresentava-se, sempre, impecável. Gostava de bons trajes e, quando jovem, usava polainas, chapéus e elegantes paletós.
Amava comer e gostava de cozinhar, beber e fumar. Gostava de mulheres bonitas, música e canções; nada havia de ascético em sua vida, embora ele tenha optado por uma vida de ascetismo.
Mario já nasceu um professor.
Amava as crianças, muito em especial os bebezinhos aos quais chamava de “fazedores de milagres” e com os quais mantinha longas conversações, que os recém nascidos acompanhavam, com fascínio, pelo movimento de seus lábios.
Entretanto, de todos seus inúmeros amores, jamais houve algum que se comparasse ao amor que sentia por sua mãe e pelo trabalho inovador que ela fazia. Um amor tão profundo que dominou toda sua existência. Sua dedicação a Maria Montessori era de consciente e livre escolha e não o resultado de um apego filial, afinal ele era maior de quinze anos quando, pela primeira vez, a conheceu e conviveu com ela – bem tarde para um complexo de Édipo. Ela não ocupara nenhum espaço em sua vida no período de sua mente absorvente. Jamais houve dúvidas sobre a completa secção do cordão umbilical que os unira. Ele viveu para ela, com ela, mas não através dela.
O surpreendente é que neste homem destituído de qualquer formação acadêmica ou escolástica havia uma profunda clareza e uma compreensão total do trabalho que a mente de sua mãe criava. Uma inteligência intuitiva e uma abertura de espírito tal que lhe permitiam estar lado a lado com Maria Montessori, acompanhar seus saltos quânticos, da primeira à enésima dimensão, chegando a certos pontos ou princípios, em diferentes ocasiões, antes mesmo dela, o que facilitava para Maria um vôo mais alto. Nada do que ela deduzia, desenvolvia ou postulava jamais o surpreendeu. Eles estão juntos num nível superior de entendimento e criação.
Graças a Mario, Maria Montessori não sofreu a sensação de isolamento tão comum aos gênios, que leva pela época histórica e idade a uma permanência estática. Porém, ele não foi apenas uma inteligente barreira de eco para as idéias dela, ele ajudava a clareá-las, dava forma a estas idéias e, com isto, ela prosseguiu desenvolvendo sua mente singular até o final. Quando, com o passar dos tempos, ela confiou mais e mais sua carga de trabalho nas mãos dele, organizando cursos, examinando alunos, discursando sobre materiais, vida prática etc, ele incumbia-se de todos os detalhes e complicações inesperadas em conferências e cursos de treinamento. Protegendo-a do desgaste com praticamente todos os detalhes, ele deu à Maria Montessori chance de se concentrar completamente no seu trabalho criativo. Ele apresentava a ela idéias novas e não apenas reações. A medida que avançava em anos, a cumplicidade dos dois tornou-se completa. Sem ele, ela teria ficado frustrada com a falta de compreensão, retirando-se a um exílio espiritual, incapaz de lutar sozinha para preservar a pureza de seu trabalho. Com a sua compreensão, o seu entusiasmo e confiança no valor de sua visão cósmica para o desenvolvimento da humanidade, ele tornou-se um pilar de seu trabalho. Após a morte de sua mãe, ele continuou sua luta contra todas as adversidades, todos as disputas por poder, todas as intrigas; ele continuou a lutar pela criança – a criança, pai do homem.
Mario Montessori, meu pai, foi um homem extraordinário.
Mario Montessori, Meu Pai.
Mario Montessori nasceu em Roma em 31 de Março de 1898. Filho de Maria Montessori, foi seu protetor, companheiro constante e principal esteio de seu trabalho.
A ética Montessori não admite idolatrias, mas a AMI decidiu celebrar o centenário de seu aniversário de nascimento, em Roma, em 1998, com uma cerimônia tranquila e apropriada para lembrá-lo. Sem apelar para sentimentalismos, vale lembrar que as pessoas que o conheceram e que trabalharam com ele estão desaparecendo pouco a pouco. Construir uma capela virtual em sua memória estaria fora de cogitação e poderia ser irritante para os que não o conheceram.
Mas, porque então a AMI homenagearia Mario Montessori?
Por três razões: Primeira, porque ele foi um montessoriano de suma importância. Ele criou uma estrutura montessoriana tão sólida - um arcabouço para o ambiente preparado - com excelência tangível e intangível, no qual Maria Montessori pode melhor realizar seu potencial. Construção que eventualmente transformou-se na AMI, sede do ideal e da prática de Maria Montessori.
Segunda, em reconhecimento a sua incalculável contribuição a uma nova estrutura dos “materiais de desenvolvimento” e da Metodologia Montessori, como resultado de um diálogo permanente entre ele e sua mãe.
Terceira, porque para o momento atual , este é um chamado ao trabalho para as presentes e futuras gerações de Montessori anos e também uma resposta à constante preocupação de Mario com a continuidade do Movimento Montessori em todas as dimensões.
Entretanto, acima e além de tudo, porque o homem tem uma tendência para esquecer que a vida é a mais alegre aventura e que devemos vivê-la festivamente. Nenhuma homenagem é pequena diante de um exemplo de vida celebrada, apesar das vicissitudes pessoais e globais, em meio a um projeto que envolve todos os povos da Terra do que a de Mario Montessori.
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